Dia Mundial da Amamentação

01 de agosto é o Dia Mundial da Amamentação.

Ontem fiquei vendo várias postagens de mamães e apoiadores da amamentação, falando o quanto é gostoso amamentar, o quanto a ligação entre mãe/bebê no momento da mamada é mágico, o quanto é importante para a saúde… Desde ontem, fiquei tentando me encaixar nisso tudo.

Vou contar um pouco da minha experiência com a amamentação.

Cecília recebeu meu leite por uma sonda orogástrica (ou seja, um tubo inserido na boca dela até o estômago) a partir dos 7 dias de vida. Enquanto ela esteve na UTI neonatal, era assim que ela recebia o leite. A partir do momento em que ela colocou a sonda de gastrostomia e tivemos alta pra casa, mantive o leite materno até os 2 meses e meio de idade.

Pra isso acontecer, eu ordenhava meu leite. 5ml de leite quando ela começou a receber meu leite. Pouquinho né? Mas e quando essa conta chegou em 100ml a cada 3h? Sendo que pra tirar 100ml eu ficava quase 1h ordenhando. E vamos combinar, ordenhar não é um termo lindo, muito menos uma situação prazerosa. Dói, assa e depois de tanto sofrimento, você vê sua filha recebendo o alimento por uma sonda. Algo tão frio e sem conexão nenhuma com a mãe. (minha opinião)

Hoje em dia, eu fico repassando alguns momentos na UTI com ela e pensando que eu queria ter a experiência que tenho hoje, naquela época. Me sinto frustrada por não ter batido o pé com algumas coisas, por exemplo a amamentação. Em 51 dias que passei lá, nunquinha me deram a chance de sentir a Cecília no meu peito. Como na UTI todos os bebês recebem o alimento via sonda nasogástrica ou orogástrica, isso era comum a todas as mães… depois de um tempo, quando os bebês ficam mais estáveis e fortinhos, eles começam a ir para o peito das mamães para aprender a mamar.

Eu observava quieta. Até que um dia, eu perguntei, por que ninguém tentava com a Cecília. Então, a fono do hospital foi até lá, colocou uma luva, colocou sacarose no dedo e aos poucos colocou na boca da Cecília. A Cecília não reagiu. Nem sequer abriu a boca ou mexeu a língua. Depois, ela me pediu uma chupeta, e fez a mesma coisa… e a reação da Ceci foi a mesma. OK. Ela não tinha nenhum reflexo de sucção e então eu fiquei quieta. Nunca me deram a chance de sentir ela no meu peito e eu nunca questionei isso.

Pode parecer lindo, eu ter dado meu leite pra ela por esse tempo, mas foi sofrido. A pressão que eu sentia vinha de todos os lados, pois muitas pessoas mesmo sabendo que ela usava sonda, me perguntavam se ela recebei meu leite. Quando eu dizia que sim eu ouvia sempre a mesma frase: “que ótimo que é seu leite, isso vai fazer toda diferença” ou então algo do tipo “que lindo que ela tem essa chance”. Mas ninguém pensava no quanto eu sofria pra tirar o leite daquela forma. Ninguém sabia que muitas vezes eu tirava o leite chorando e pensando: “Isso tá errado… não é assim que um bebê deve mamar”. Mas eu não culpo as pessoas, o sentimento era só meu, a negação de aceitar a sonda era minha e eu que precisava mudar.

Foi duro aceitar que eu não queria mais ordenhar pra dar meu leite pra ela. Foi com ajuda da minha psicóloga que eu consegui. Certo dia ela me disse assim: “se ela tomar a fórmula e não o seu leite, ela vai morrer?”, foi quando eu respondi “não” que eu aceitei. E dali por diante eu comecei a dar só um pouquinho do meu leite por dia… eu fui fazendo um trabalho de aceitação e apertando o botão do “foda-se” pra opinião dos outros. Entendi que era eu e a saúde da Cecília que importava. Se ordenhar o leite estava sendo tão traumático e a fórmula fazia o mesmo efeito, que era o de nutrir, por que não trocar? Quando aceitei isso, me livrei de um peso.

A aceitação é a coisa mais libertadora do mundo. Quando eu aceitei o fato da minha filha se alimentar por uma sonda e tudo se tornou mais fácil. Eu vi a chance de sair a qualquer hora do dia, afinal, por que não dar o leite pra ela no shopping? Se os bebês mamam no shopping, a minha bebê também iria mamar. E aos poucos esse momento foi se tornando prazeroso e natural.

Essa foi minha experiência com a amamentação. Como tudo até agora ela é diferente da sua experiência e a sua experiência é diferente de todas as outras mulheres.

Vamos nos comparar menos, nos cobrar menos e nos apoiar mais? Sem diferente é normal.

Foto: Beth Esquinatti e Nei Bernardes

 

3 comentários em “Dia Mundial da Amamentação

  1. Que depoimento forte e sincero. Não tem como não aprender muito com tudo isso. Como na vida as coisa não estão no nosso controle e dentro das nossas regras. Muitas vezes as situações nos pegam de surpresa e aí nossa reação é uma, e depois ficamos pensando porque não agimos diferente. Mas não dava porque naquele momento não tínhamos experiência. Esse é um pensamento que também me acompanha, temos que aprender a lidar com ele. Aceitar aquilo que não podemos mudar, e coragem para mudar aquilo que podemos. É isso que desejo para vocês e para todos nós. Obrigada por compartilhar.

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  2. Muito legal teu depoimento Camila. Hoje sinto que vivemos num mundo do faz de conta. As mães postam nas redes sociais que ser mãe eh a melhor coisa do universo e está longe de ser maravilhoso. Os nossos filhos são maravilhosos.. mas ser mãe está longe de ser um . glamour.
    Somos cobradas todos os dias, todos os momentos. Eu consegui amamentar meu filho até os 4 meses mas sofri muito quando não conseguia ter a quantidade de leite suficiente para ele. Depois aceitei que tudo que estava acontecendo eram meras convenções e que eu fiz o que pude. Parabéns pelo depoimento!

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